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terça-feira, 29 de abril de 2008

O PSD é um partido ou um saco de gatos?

Após a renúncia do presidente do PSD, Luís Filipe Menezes, na semana passada, não faltou, dentro do principal partido português de oposição, quem criticasse a postura do líder em abandonar o posto por causa das críticas ao seu mandato. Depois do "chega" e do "basta" de Menezes, logo pipocaram novos candidatos a líder para as directas que serão convocadas, entre figuras expressivas conhecidas da lavação pública de roupa suja, a que o PSD já habituou(?) os eleitores portugueses, ao longo dos últimos anos. Aliás, uma imagem de marca que já independe de o partido estar na oposição ou de passagem pela condição de governo.

A falta de unidade política entre os líderes do PSD é cada vez mais visível. A postura pseudo-democratista de debater em público as suas crises mais viscerais e de remetê-las sempre às bases, está a levar a sigla ao desgaste como instituição política e só quem é cego não vê. O PSD não tem sabido potencializar energias nem crescer na oposição, nem mesmo nos momentos em que o governo é confrontado nas ruas. As críticas são fracas, mal fundamentadas, o comportamento oposicionista não tem passado idéias que pareçam ir além da velha intriga. As lideranças nacionais mostram-se cada vez mais personalistas e anti-partidárias aos olhos do público. Luís Filipe Menezes, cuja postura sempre destoa do de costume, demarca-se do que aí está com esta renúncia e acumula pontos junto do eleitorado nacional - para além do PSD. Quem quiser pesquisar poderá constatar. Mais uma manifestação do personalismo vigente, ou uma rebelião diante dos costumes que levará Menezes ao crescimento como líder nacional? Saberá o PSD crescer com ele após a sacudidela?

Quando soube da renúncia de Menezes logo perguntei a quem assistia comigo ao noticiário: saberá o PSD reunir-se para aproveitar este facto e seguir atrás deste "chega" e deste "basta"?! Estas palavras podem estar a sugerir uma mudança de postura diante do eleitorado. Um PSD novo, espontâneo, simpático, feito de barões, "cromos" regionais, mas também de líderes capazes de unificar uma sigla. Pois concordem ou não, o PSD não tem um líder com carisma público e espontaneidade que se compare a Menezes hoje. A textura dos últimos líderes que temos visto, assim como a dos candidatos que se apresentam para as próximas directas tem um traço em comum: expressão arrogante diante dos jornalistas, discurso e frases ensaiadas (mal ensaiadas), personalismo e demagogia fáceis de serem percebidos, antipatia, excessiva preocupação com o próprio quinhão em detrimento da unidade partidária. E um pecado mortal na imagem de um líder político: o nariz empinado que nunca mais se gasta.

Na melhor das intenções pergunto: o que se passa com o PSD? Não sabe que não é possível haver um bom lider sem um partido unificado, mas que também nenhum partido cresce sem amadurecer um líder com durabilidade de pelo menos uma geração? Terá se tornado o principal partido de oposição em Portugal um triturador de lideranças? A assim continuar, que farão no futuro dentro do PSD homens com carisma, bons de público e de voto? Para onde irão os líderes naturais que surgem e surgirão? Acabarão indo para outros partidos, formando novos partidos e deixando o ringue para os barões e seus respectivos defensores. O tempo dá os seus sinais, como sempre, para quem os sabe ler. Só quem já morreu não muda de opinião. O excesso de confiança na fidelidade dos eleitorados e colégios, assim como o desleixo na observação das novas mentalidades que timidamente vão se formando, parece ainda não fazerem parte das preocupações e do debate interno de algumas crônicas instituições, perdidas na luta em aberto e em directo por interesses completamente defasados aos olhos do público.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Violentos são os outros?


"Isto até parece o Brasil". Com esta frase um dos apresentadores do telejornal da noite da SIC iniciou uma reportagem especial sobre o aumento da violência em Portugal, mencionando comentários comuns de se ouvir pelo país, após a última onda de assassinatos em Lisboa e no Porto. Tenho ouvido a mesma coisa muitas vezes e principalmente entre imigrantes brasileiros. Quando refino a pesquisa e pergunto a que atribuem esta sequência dos factos, a maioria responde com alguma explicação relacionada com a presença de imigrantes de outra origem. É verdade que se pode contar nos dedos os casos envolvendo brasileiros que vão parar à mídia em Portugal, embora haja cada vez mais brasileiros cá, e de todas as regiões. Mas quase todos os brasileiros de quem ouvi o tal comentário saíram do Brasil bem antes a descoberta do filão do crime pelos canais abertos de televisão e não acompanham os acontecimentos pela internet.

A grande imprensa brasileira resolveu manchar as suas páginas de sangue, perdeu o preconceito contra o crime e trouxe à tona a indignação geral dos brasileiros e dos turistas estrangeiros com os assaltos e assassinatos, escandalizando o Brasil e o mundo com um tema que, quando estávamos na universidade não merecia a atenção do público de bem, e era apenas um alimento da imprensa sanguinária. Foi descoberto enfim que o crime não é normal e nem é ficção. E tivemos que admitir que a imprensa do crime também ajudou a contar a história social do Brasil nas entrelinhas da dita imprensa séria. Os crimes virararam espectátulo com direito a transmissão ao vivo, mas também viraram escândalo e indignação, como tudo o que se mostra sem restrição. E iniciou-se, sem que se abrisse formalmente uma sessão, um debate nacional sobre a violência. Curiosamente em Portugal a grande imprensa também passou a pautá-la ostensivamente após uma série de assaltos e execuções, e a explorar todas as modalidades de crimes antes abrigados pelo preconceito jornalístico e outros tipos de manifestação da violência urbana, social e doméstica.

A violência em Portugal não aumentou, está aumentando como foi acontecendo no Brasil, onde por muitos anos não havia políticas para a conter, e o crime era apenas assunto dos jornais de segunda categoria. Em Portugal os jornais sanguinários também foram contando nas entrelinhas a história da violência, exactamente como no Brasil, portanto considero muito bem vindo o exagero na atenção actual da imprensa portuguesa de grande audiência ,quando explora os crimes caso a caso, com exaustão de telenovela, pois enquanto no Brasil temos a sensação de que já não há políticas nem polícias que resolvam a situação, em Portugal parece que ainda se trata de um fenômeno possível de ser enquadrado.

Meu saudoso pai, que era um muito cauteloso descendente de portugueses e repetia provérbios que só em Portugal voltei a ouvir, dizia sempre que "quem tem os olhos fundos põe-se a chorar cedo". Pois. Violência dá audiência e crime faz vender jornais mas quanto menos escondida a realidade for, melhor é para todos. Não acredito na idéia de que o crime show vulgariza o assunto e faz-nos acortumar com o medo. Ninguém passa a sonhar com o dia em que será roubado e assassinado após assistir programas como o Linha Directa ou assistir ao Tropa de Elite - pesquisem na internet e assistam. Certas polêmicas sobre o sensacionalismo na imprensa e a apologia à violência contida nos filmes tornaram-se enfadonhas. Também por tanto show e filme que o crime já reproduziu no Brasil é que tenho escutado menos pessoas no Rio, em São Paulo ou noutra cidade dizerem, indignadas, que aquilo parece mais a Bolívia, a Colômbia, a Venezuela ou a faixa de Gaza. Se não vemos a violência com a verdadeira cara que tem, isto é, a nossa, continuaremos a pensar sempre que violentos são os outros. Bem vindo o exagero da imprensa portuguesa e o debate sobre a violência instalado no país, com a participação activa da audiência como testemunha e denunciante indignada.

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