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terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Arilda Costa e o pintor Alexander "Sasha"

pessoas, profissões, encontros

Uma pessoa vive no lugar onde o seu trabalho está presente. Com a facilidade com que as pessoas hoje se deslocam pelo mundo, e com a mobilidade que certas profissões exigem ou permitem, os encontros entre pessoas de profissões diferentes que se complementam, são uma realidade cada vez mais fácil de registrar. Pessoas de origem, cultura e línguas diferentes, interesses e histórias completamente diversos, se encontram e passam a ser o “objecto” do trabalho umas das outras. Isto é apenas uma introdução para lhes contar um pouco da trajetória de Arilda Costa, mineira de Belo Horizonte (Minas Gerais, Brasil), imigrante em Itália durante 14 anos e agora residente nos EUA. Dela e de Sasha, um pintor russo que conheceu em Roma no verão de 1993.


Na Itália, além de se ter casado e tido uma filha, Arilda encontrou-se com o Sasha, nos jardins do Castelo Sant’Angelo, perto da praça São Pedro, durante a feira anual "ïnvito alla lettura", como recordou na entrevista que deu ao meu blogue pessoal pela internet. Trabalhava num stand que vendia livros de arte antiga, renascentista e moderna, e a noite ia aos concertos de jazz ao ar livre. Sasha havia acabado de se mudar para Roma, vindo de Moscou, e pintava nos jardins do castelo para sobreviver. Alexander "Sasha" Sergeeff nasceu em Moscou em 1968 e começou a pintar aos cinco anos de idade. Depois de ganhar seu primeiro prêmio aos nove anos, matriculou-se na Escola de Arte para o ensino médio. Influenciado por Diego Velàzquez e John Singer Sargent, ele estudou no Moscovo Instituto das Artes e na Academia Russa de Pintura. Quando foi convidado para vir a Roma, no início dos anos 90, apaixonou-se pela luz e pela beleza da cidade e emigrou para Itália. E agora trabalha em seu estúdio em Roma. Sua arte foi apresentada em numerosas publicações, incluindo uma edição especial em italiano da Architectural Digest e a INTERNATIONAL ARTIST. Tem exposto em Moscovo, Roma, Paris, Madrid, Barcelona e Estocolmo, bem como nos Estados Unidos. Sasha é filho de um engenheiro atômico que morreu em Chernobyl. Não tive ainda o prazer de o entrevistar, mas sobre ele o mais importante está divulgado no site http://www.artsasha.com/


“O Sasha como artista é 10, mas tenho a sorte de tê-lo como amigo. Ele é maestro... eu o chamo maestro. O meu sucesso está ligado ao sucesso dele. Costumamos brincar entre nós dizendo que eu trabalho p'ra ele e ele trabalha p'ra mim."


Arilda era uma jovem mãe e ainda não havia experimentado agenciar um artista, mas tinha um grande amor pela arte e o trabalho de Sasha foi uma paixão à primeira vista. O trabalho e a vida levaram-na para New York, mas ela levou consigo o trabalho de Sasha, que expõe e divulga nos Estadso Unidos. Não esquece Roma, cidade que exerce sobre ela enorme fascínio. “Morro de saudades de Roma, onde tenho amigos artistas, músicos… morar em Roma para mim era como morar em um museu a céu aberto”, diz, ou melhor, escreve pelo msn, misturando já palavras em italiano ao português. Foi morar em New York por razões familiares apenas, mas já sentia que poderia desenvolver nova actividade promovendo o trabalho de Sasha. Nos EUA passou a vender o pintor russo e também a mostrá-lo ao mundo através de revistas críticas da área. O ponto foi por fim atingido com a publicação na revista INTERNATIONAL ARTIST, parâmetro internacional entre as publicações especializadas, que o chamou de “masterful painter of Inhabited sculpture". Confiram no site. Vale lembrar que se trata de uma publicação para a qual os artistas são rigorosamente selecionados por mérito. Arilda conta como funciona: “Mandei uma carta de apresentação com brochuras e fotografias... e no dia em que recebi a carta com o convite foi um grande dia de satisfação. Fiquei mesmo muito feliz”.

Quis saber como foi trocar a Europa pelos Estados Unidos ou melhor, Roma por New York. Uma cidade muito louca ou um caos perfeito? Ela riu-se e respondeu que caos perfeito encaixa bem. Sobre o início da vida em NYC lembra que nem falava bem inglês quando chegou, mas confiava que com Sasha ia ser bem sucedida. “Comecei a visitar galerias, museus, ler tudo sobre arte… e daí que um belo dia surgiu a oportunidade: uma galeria interessou-se em mostrar o trabalho dele”, contou-me Arilda pelo msn, numa entrevista feita em várias etapas, entre uma tarefa e outra. Entre diversas actividades na área artística e na imprensa, ela agora estuda e pratica fotografia digital. Através da internet conheci-a, precisamente pelo jornal online O Rebate (www.jornalorebate.com) editado em Macaé, Rio de Janeiro, com o qual nós as duas colaboramos frequentemente - e esta é mais uma história de encontros entre pessoas e profissões. “Depois fui convidada para expôr o trabalho de Sasha nas Nações Unidas”, prossegue ela teclando, enquanto vamos falando sobre possíveis espaços para expôr em Portugal e no Brasil, entre outros projectos em comum que vamos esboçando à distância. Graças ao meu "encontro" com ela, este blogue chegou até ao jornal ComunidadeNews (www.comunidadenews.com), porta-voz da comunidade brasileira nos EUA, e acordamos uma troca de links. Falamos ainda sobre o desejo que ela tem de trabalhar com outros artistas, por exemplo de levar pintores brasileiros para expôr nos EUA, embora tenha especial admiração pelos pintores russos: “Os artistas russos são muito bons porque na Rússia, e particularmente em Moscou, está uma das melhores Academias de arte do mundo. Eles são muito bons porque são preparados, e sendo preparados a concorrência entre eles mesmos faz com que tenham que se superar. Mas gostaria de trabalhar com pintores brasileiros e não sei porque isto ainda não aconteceu”.


Enquanto prepara uma exposição de Sasha para Greenwich, Arilda Costa vai aguardando respostas ao artigo que publicou no O Rebate pedindo aos pintores brasileiros que contactem com o seu escritório em New York e enviem material informativo. Particularmente recomendo o mesmo aos pintores portugueses. O e-mail para contacto directo é: europeanart33@hotmail.com

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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

O Rebate Canal é nosso

Se vc é colunista ou colaborador do Jornal O Rebate e tem um assunto
interessante gravado em vídeo - reportagem, entrevista ou outro conteúdo - pode postar aqui mesmo, no seu blogue, o seu material. Mas pode publica-lo também no O Rebate Canal no Youtube, junto com todos os vídeos relacionados com este jornal online, enviando os seus vídeos ou links para o e-mail orebatecanal@gmail.com
O seu vídeo ou o seu favorito vai entrar na nossa playlist e na história do jornal, e poderá ser visto em todo o mundo. E se é leitor do O Rebate pode fazer exactamente o mesmo. Não se esqueça de que quanto mais interessante for o vídeo, mais visitantes ele terá. E ficará tudo registrado no O Rebate Canal.

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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O Tráfico, a Família Real e a Genitália no Carnaval do Rio


EU VOTEI NA PORTELA PELA INTERNET
Já que não fui ao Carnaval, não queria comentar sobre carnaval, mas não dá pra evitar. E já que não dá, vou comentar sobre o carnaval que vi mais de perto, o do Rio de Janeiro, o meu carnaval possível, visto via O Globo Online. Pelo que é o emblemático evento e pelo que o resultado da premiação pode representar. A quinta vitória da Beija-Flor em seis anos não me espanta, pois os quesitos da eleição no primeiro grupo são mais rígidos do que parecem, exigem perfeição e a escola foi perfeita, pelo menos no vídeo. Muito embora a empolgação das torcidas as vezes faça parecer que vai virar o jogo, faz muitos anos que isso não acontece. Desde o “bumbum-paticumbum-prugurundum” foram poucas do gênero. Os tempos em que a torcida virava o jogo já lá vão em 26 anos pelo menos. Só nos resta julgar pela internet, votar nos concursos extra-oficiais e seguir o nosso coração.

O que de facto vale a pena ser comentado nos resultados do desfile principal do Carnaval 2008, no sambódromo mais conhecido do mundo, é sobre o que o mesmo reflete da nova mentalidade do carioca. Politicamente correcto, e em busca de um modêlo equilibrado de comportamento que se contraponha à má imagem causada pela violência urbana, o carioca critica tudo, repudia extremos, pune a família real portuguesa nos seus 200 anos de chegada ao Brasil - em nítida falta de informação sobre a importância do tema - rebaixa a escola São Clemente para o grupo de acesso - alguém lembra de como se chama o palácio onde está instalada a residência do Cônsul de Portugal no Rio de Janeiro?. Pois. Ainda relacionado com o tema, não exactamente sobre, outra escola de samba patrocinada pela Prefeitura do Rio, a Mocidade Independente, de Padre Miguel, levou chumbo em enredo com o seu Quinto Império. E ninguém se lembrou que exactamente no dia 6 de Fevereiro o Padre Antonio Vieira faria 400 Anos. Também, se a Mangueira festejou 100 anos do frevo e esqueceu os 100 anos de Cartola, o que pensar? A famíla real portuguesa e a história do Brasil tiveram melhor sorte com as escolas não patrocinadas, o que já representa uma crítica do poder cultural dos jurados em relação ao poder político. A história é pra ser contada, mas à nossa maneira, sem o bedelho da oficialidade. A tijucana Salgueiro levou o vice-campeonato com a subtil abordagem de um tema histórico, no meio da carioquice charmosa trazida pela mesma família real portuguesa e que o Rio de Janeiro continua tendo. E o Dom João e as Marias, da Imperatriz? Gente, história, mesmo, só à carioca, com muito humor em volta.

No outro extremo da rejeitada tradição, o carioca - ou o júri politicamente correcto - rejeita e pune, com retirada de pontos, a já prejudicada São Clemente, por causa da genitália nua, que não é nenhuma novidade, logo também uma tradição, mas que na Marquês de Sapucaí não foi desta vez anunciada aos representantes da nova hipocrisia, traídos pelo tapa-sexo da Viviane, que caiu. A preocupação exarcebada do carioca com o que é politicamente correcto coloca num mesmo patamar moral a história e o sexo, promove visualmente na multidão o Capitão Nascimento (personagem do filme Tropa de Elite) e dá um 10º. Lugar à Mangueira, numa clara punição pela aliança entre a escola e o tráfico de drogas, tão bem denunciada e documentada pela reportagem do Globo Online. Este 10º. Lugar é mais importante que o bi-campeonato da Beija-Flor. Refletiu a mentalidade do carioca - e dos brasileiros - que vibraram com o desfile impecável que fez a verde-e-rosa, mas não protestaram contra a desastrosa nota que a escola recebeu, como fizeram com o 11º. em 1994, entendendo o de hoje como um resultado mais do que moral. E ainda elegeram a Portela como a favorita dos internautas, num destaque, acima de todos os quesitos, da torcida que tem a escola, que rivaliza com a da Mangueira. É, gente, bumbuns-paticumbuns-prugurunduns nem no juri, nem na arquibancada, agora só mesmo pela internet, e bem comportados, que nos diga a Império Serrano de hoje. Festa é festa, mas não esqueçamos de que alguém é responsável pelos mortos contados na quarta-feira, especialmente os executados a tiro durante o carnaval. Os temas polêmicos e irreverentes não são amigos da paz na nova mentalidade do carioca, e não merecem destaque nem na oficialidade, nem nas torcidas. O júri e a opinião pública puniram o mal e os remédios.

História, genitália e tráfico de drogas estão do mesmo lado? Não, mas foram igualmente punidos em favor de temas pouco polêmicos, reverentes e pacíficos de outras grandes escolas que deram a sorte de não quebrar os carros e dar clarões no desfile. Politicamente correcto, no resultado oficial do carnaval no Rio de Janeiro, talvez só mesmo a intenção de sê-lo e o desejo de viver em paz o charme de uma cidade que continua linda e que continua sendo, aliás, interesses comuns ao júri e ás torcidas. Não era preciso punir junto com o tráfico, a passagem secreta da Mangueira e a Família Real portuguesa, a genitália nua, que de tão discutida, já era altura de ter sido pacificada. Viva a Beija-Flor na sua perfeição com as suas lendas do Amapá, mas também Viva a São Clemente, com o seu enredo histórico e a genitália da Viviane!

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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Isto aqui ôô


é cada vez mais um pouquinho de Brasil.





O carnaval brasileiro foi ao longo dos anos tomando conta do visual do carnaval em Portugal e se misturando com o visual etnográfico de todos os considerados bons carnavais portugueses. Loulé já tem até micareta! Só no distrito de Aveiro há dois grandes carnavais que rivalizam em cores, escolas de samba, concursos, grupos, passistas, baterias e desfiles: Ovar e Estarreja. Em ambas as cidades os brasileiros foram se infiltrando e se juntando aos grupos locais e influenciando o conteúdo temático dos carnavais. A principal expressão desta influência, a meu ver, nem são as roupas mínimas que as passistas exibem em pleno inverno, aquecidas apenas pelo esforço da dança. É o samba no pé, que contagia cada vez mais os portugueses e os sambas-enredo, que os portugueses já interpretam, tocam e compõem. Sem nada deixar a desejar em relação aos nossos. E as marchinhas tradicionais a tocar nas rádios o dia inteiro e nas rádios comunitárias?! Um brasileiro sente-se em casa... A transmissão pela televisão, em directo, do desfile principal do Rio de Janeiro muito tem contribuido para a transformação dos carnavais em Portugal, mas a presença física dos brasileiros que para cá transferiram a vida é que alimenta a transformação, que caiu no gosto da maioria, apesar das críticas e reservas quanto a descaracterização dos carnavais locais. Os mais antigos tem saudades dos carnavais mais bem comportados, mas os mais jovens gostam e alinham com o carnaval à brasileira, regado a muita caipirinha, servida aos brincantes dentro das enormes tendas montadas para os proteger do frio durante as madrugadas.

Convido-os a visitar alguns links relacionados com os carnavais de Ovar e Estarreja e conhecer a história desta transformação:



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