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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Abstenção vence na 1ª volta, Cavaco é reeleito em 2º lugar e Portugal vai perdendo para oposições

Com exceção do último colocado, Defensor Moura, todos os candidatos comemoraram uma espécie de vitória nas presidenciais portuguesas. Cavaco Silva, do Partido Social Democrata, venceu no primeiro turno uma eleição desenchavida, em que os poucos, aproximado aos 40% que foram às urnas, parecem ter votado mais nele para arrumar com isto de eleições. A campanha rendeu bons momentos aos propagadores do golpismo, da monarquia e de outras tantas idéias passadas do ponto na política européia. Políticos e políticas em descrédito no país, direitos tradicionais abalados e a falsa estabilidade social sendo questionada por medidas de austeridade. Nada abala a falta de coragem do eleitorado para tomar decisões.

Mesmo num momento de grave crise económica, vemos em Portugal cidadãos que menosprezam o poder do voto e candidatos que não se dedicam a vencer a abstenção. O exercício do voto é dificultado cada vez mais pela burocracia, lei eleitoral obsoleta e desprezo pelo uso das tecnologias. E em nome das liberdades o voto não é obrigatório por lei e não se pode responsabilizar os portugueses por nada. Não é leviano afirmar que a maioria dos portugueses prefere não participar e culpar os que vão às urnas para lá deixarem os seus a ocupar o poder no país. As vitórias contínuas da abstenção e o continuísmo são sintomas das razões pelas quais o país não reage económica, politica e moralmente: falta de vontade política de quem está no poder, falta de participação dos insatisfeitos e principalmente a incompetência das oposições.

Já li o texto dos analistas, dos sérios e dos tendenciosos, e a vitória do atual Presidente para fazer um segundo mandato teria várias explicações. Aparece de tudo nas análises, a começar pelo alegado desgaste no governo de José Sócrates, o Primeiro Ministro da crise portuguesa e do seu Partido Socialista, no caso o maior partido de oposição na campanha presidencial  Esta avaliação não desculpa a má escolha feita pelo PS de um candidato com mania de suprapartidarismo, e que sempre fez oposição internamente, sem nunca ter sido expulso. Mesmo com o acumulado de adeptos no PS em torno de si, nunca entendi a candidatura de Manuel Alegre, que nem com o apoio do crescente Bloco de Esquerda funcionou. Muito boa parte do colegiado socialista anti-Alegre foi às urnas para votar em Cavaco Silva, que fez uma campanha limpa, até de cartazes, diga-se, e discreta, na medida de um presidente em exercício, que atuou muitas vezes sob pressão por não querer usar da presidência para perturbar a governação. Calado a mais para uns, equilibrado para outros, Cavaco Silva ganhou o melhor e o PSD ganha por tabela.

O propagado desgaste do Primeiro Ministro socialista não é tão grande assim, de acordo com as sondagens sobre a sua aprovação. Portanto os menos de 20% dos votos válidos obtidos pelo PS nessas presidenciais devem-se mais ao erro na escolha do candidato. Boa parte do eleitorado socialista votou em Cavaco, repito. E pode não servir como amostragem, mas conheci também alguns casos de eleitores do PS e BE nas últimas eleições, que não foram atrás de Alegre e viraram o voto para Fernando Nobre. Assim... de onde vêm a "surpreendente" votação do 3º lugar independente, tão festejado, inclusive pelos analistas tendenciosos de direita?

Segundo alguns analistas, o independentismo é um fenómeno em alta em Portugal. Não entendo como chegam a tal conclusão. Só se continuam a contar, em proveito próprio e dos que lhes pagam, com a apatia da metade do país e com as deficiências da oposição! O meio-independente Alegre apanhou uma "sova" do eleitorado levando o PS junto. O independente Fernando Nobre estufou com 14% dos votos, parte migrados do PS e do BE, que somados aos dos outros candidatos menos votados poderiam ter arrastado numa aliança pelo menos mais 5% das abstenções e decidido a realização de um segundo turno. Qualquer um dos candidatos menos votados poderia representar o conjunto dos pensamentos oposicionistas, e, num segundo turno, qualquer um dos cinco opositores poderia vencer Cavaco Silva e talvez a abstenção. Isto prova sim, que há um futuro bem próximo para a social democracia nos independentes. Mais uns anos em perspectiva, e desgastado mais uma vez o PSD, voltará o PS e continuará o show da oposição bem intencionada da esquerda dividida e dos independentistas, para consolo da fantasia dos desiludidos e dos mais jovens. Porque a oposição pouco ambiciosa e os desencantados, pouco exigentes com os seus novos mitos morais e "salvadores", são os maiores responsáveis pelo criticado mas "vitorioso" continuismo em Portugal.

Cavaco venceu mais uma vez porque fez uma campanha coerente consigo mesmo ao manter e satisfazer a imagem vincada e sizuda que Portugal ainda tem no mundo. Isto em equilibrado contraste com a imagem moderna e desportiva do Primeiro Ministro. Alguma coerência teve a direita (CDS-PP) em não lançar um candidato puro e se expôr ao desgaste. Paulo Portas lidera uma força crescente na atual conjuntura e age de acordo. Francisco Louçã e o seu Bloco de Esquerda também fugiram ao personalismo independentista e guardaram coerência ao apoiarem o derrotado Alegre. O que restou para os bem pagos analistas da televisão concluírem foi a "descoberta da pólvora" do novo independentismo português.

O que faltou e o que falta para que Portugal volte a ter um presidente socialista ou de esquerda? Falta à esquerda e aos independentes a saudável ambição para vencer e para fazer chegar ao de cima as suas idéias tão corretas, tão decentes e tão bem intencionadas para o país. Falta deitarem fora a demagogia do despezo por estratégias simples para se vencer uma eleição, que passam por abrir mão do exibicionismo personalista, em nome da unidade e dos objetivos a curto prazo. Falta a esquerda e os independentistas pululantes corrigirem a hipocrisia do contentamento com as já tradicionais "vitórias na derrota", que levam ao país a lado nenhum. Essas forças "profissionais" e de eterna oposição, que reclamam coerência com os próprios "umbigos" políticos, nascem e crescem, legitimamente, da insatisfação geral e da vontade dos mais jovens. Mas o tempo passa, as suas idéias não chegam ao poder, os insatisfeitos acumulam decepções políticas e os mais jovens vão envelhecendo.

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