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sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

A nova imagem de Portugal no mundo e a campanha do governo

O Governo de Portugal deu início esta semana a uma campanha promocional para renovar a imagem de Portugal no exterior, exactamente no dia da assinatura do Tratado Reformador da Europa – que entrará para a história com a alcunha de Tratado de Lisboa – a ser ratificado por 27 chefes de Estado e de Governo da União Europeia. A imagem de Portugal, vista de fora, deverá supostamente estar associada às energias renováveis como símbolo de modernidade, por causa da liderança portuguesa no sector da energia eólica, mas também aos ícones humanos internacionais, os chamados “bons portugueses”, gente de expressão, nas artes e no desporto. O projecto é conduzido pelo Turismo de Portugal e pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP). A nova imagem para a promoção externa de Portugal, pretende tornar o país mais atractivo e competitivo no mercado global. Os principais actores da campanha serão a fadista Mariza e o ex-treinador do Futebol Clube do Porto e do clube inglês Chelsea, José Mourinho. O jogador de futebol Cristiano Ronaldo e a artista plástica Joana Vasconcelos também terão a imagem associada a nova campanha, que custará ao país três milhões de euros. O responsável pelas imagens da campanha será o fotógrafo inglês Nick Knight. A campanha incluirá, entre outros suportes, grandes cartazes, será visível em diversos países, como a Índia, a China, o Brasil e a Rússia. A nova campanha publicitária de Portugal no exterior, desenvolvido pela BBDO, foi lançada em simultâneo em Lisboa e no Porto, na semana passada. Na capital, foi apresentada pelo ministro da Economia e da Inovação e no Porto pelo secretário de Estado do Turismo, Bernardo Trindade. A nova imagem irá reflectir o projecto de Pedro Bidarra e da BBDO, que consistia em posicionar Portugal como a Europe's West Cost. O vice-presidente da BBDO pretendia que a comunicação desse posicionamento afastaria Portugal da imagem de país do sul da Europa e teria como base o turismo, as boas marcas portuguesas, os bons portugueses e que tudo fosse lançado durante um evento de grande dimensão. Pedro Bidarra chegou a defender que deveria haver mudança na bandeira nacional.


Notícia dada, tratado assinado e campanha no ar, o comentário do blogue:


Independentemente de os portugueses escolhidos como rosto da campanha serem bons, pois são, pouco tem a campanha de inovadora. Para começar, se a Mariza e o José Mourinho já são eles mesmos a campanha há bastante tempo, então para que “a campanha”? Portugal ainda é o país do fado, mas aqui dentro sabemos que o fado se renova e resiste, tem ar mais jovem e sorridente, mas o país já é bem mais do que fado e futebol, na música e no desporto. E nas ciências e na literatura? A Mariza consegue ser tão ou mais internacional que foi Amália Rodrigues, mas vistos de fora, a Mariza é a nova Amália e o Mourinho e o Cristiano Ronaldo são o futebol e revelam que o Eusébio gerou alguns bons “filhos”. As outras protagonistas foram bem escolhidas, mas esperemos que a campanha não se fique por aí em rostos, vindo a contrabalançar com imagem de gente talentosa, que também produz, rostos menos mediáticos que se destacam dentro da sua área de interesse, aqui e noutros países, gente que solidifica, aqui e lá fora, no seu dia a dia, a verdadeira imagem de Portugal. Que os publicitários que criaram a campanha se espelhem em alguns motes das campanhas da Caixa Geral de Depósitos e do Millenium BCP, que mesclam rostos anónimos com outros de destaque, na sua faceta cidadã, de gente que economiza, compra casa a crédito, etc. Que tal mostrasse o português cidadão, produtivo, criativo, inteligente, cientista, estudante (como por exemplo a rapariga do Minho que vai protagonizar o Fantasma da Ópera em Londres). Pois há os portugueses que sem saírem (?) do país sobressaem-se internacionalmente, só em algumas áreas, mas há os portugueses que, por precisarem sair do país para formarem-se, desafiam o mundo e vencem, levando na bagagem a imagem do país. É preciso que estes últimos apareçam lá fora, e de preferência a dizer bem de Portugal. Pois os portugueses que vivem emigrados e que emigram hoje, já não levam a paixão pelo país dos tempos de Amália, mas dizem mal do país, onde vão, via de regra. A maioria volta à terra temporariamente, mas as divisas que transferem diminuem na medida da paixão e das dificuldades que encontram nos outros países, mesmo nos menos exigentes com os portugueses, como o Brasil. Posso indicar um sem número de fóruns e sites de portugueses na internet, que se ocupam dia e noite, de dizer mal de Portugal. A “campanha”, que tem como objectivo a imagem de Portugal vista de fora, deveria incluir esta preocupação. Os bons portugueses são só os portugueses bons de mídia? Os portugueses mais conhecidos lá fora precisam de campanha para terem a imagem associada a do país? Sim ou não? Portugal é só isso? Cristiano Ronaldo? Hão de perguntar os indianos. Se até as crianças indianas, como as holandesas, já associam há muito a imagem de Cristiano Ronaldo a Portugal! E se fossem mostrados rostos de imigrantes - com formação feita, como quer o presidente do partido de oposição - a contribuírem com a produção nacional e a mostrarem Portugal como um país de imigrantes, aberto ao mundo, numa via de mão dupla com os portugueses que se expressam nas mais diversas línguas. Uma campanha com rostos variados comunicando em português - mesmo com legenda - revelaria um país novo e diversificado, e uma imagem de facto nova - e uma boa imagem - e não apenas uma nova roupagem do velho. Este tipo de abordagem não só serviria a auto estima interna, como também mostraria Portugal como país requisitado e atractivo.


Ana Lúcia Araújo
cidadã portuguesa nascida no Brasil

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